65 – Futebol totó

Não sei da onde saiu esse nome estranho, mas fui apresentada ao futebol de mesa como totó. Em São Paulo é pebolim, no sul do país é fla-flu e aqui na espanha é futbolín.

 

Quando éramos crianças, havia uma mesa dessas em casa. Acho que era do meu irmão, mas sempre gostei de jogar mais do que ele. Simplesmente era tarada pelo tal do futebol totó. Fazíamos campeonatos com os meninos da rua e modéstia às favas, era campeã. Na minha memória, era minha brincadeira favorita.

 

Para ser honesta, defesa nunca foi meu forte. Fazia se precisasse, sou jogadora de ataque e violenta.

 

Bom, o tempo passou e tive algumas poucas oportunidades de jogar. Mas a verdade é que logo depois das primeiras partidas, parecia que a mão voltava a funcionar, como andar de bicicleta. O que acho engraçado é que não sou uma pessoa de jogos, perco a atenção e a paciência com muita facilidade. Mas no totó, sei lá, me baixava um santo e para sair da mesa precisava ser arrastada! Absolutamente viciante.

 

Enfim, acredito que houvesse, pelo menos, uma dezena de anos que não encarava um futebol de mesa. Não me lembro porque o assunto começou, mas entre amigos, resolvemos buscar algum local onde pudéssemos jogar.

 

Através da internet, encontramos um lugar chamado Cervecería Salamanca e para lá fomos ontem, em cinco pessoas. Apesar de ser um bar, a frequência me parecia razoavelmente adolescente, muita fumaça de cigarro e uma música altíssima. Abstraí, queria mesmo era jogar.

 

Havia duas mesas. Uma delas a menina do balcão nos avisou que ficava a noite inteira ocupada. Aparentemente, estava o campeão europeu de futbolín. A outra, um grupo de garotos levou mais ou menos uma hora para liberar. Hora essa que esperei roendo as unhas. Chegou nossa vez, que suspense. Um dos amigos havia desistido e ficamos em dois casais.

 

A mesa era bem mais moderna da que jogava no meu tempo. Os bonecos de material plástico rígido, iluminação interna e um tipo de placa na altura dos olhos, na vertical do meio do campo, que não nos deixava ver o rosto dos adversários. Bom, vá lá, as coisas evoluem, teoricamente, deveria ser melhor para jogar.

 

Não era, pelo menos na minha opinião. Os anos foram implacáveis e não tive agilidade nem parecida aos bons tempos de jogadora. Frustrante, porque os bonecos nesse material travam um pouco a bola, você não conseguia dar tacadas muito fortes. Ainda por cima, um dos meninos que estava jogando antes, ficou sozinho no bar e pedia o tempo todo para jogar conosco ou dava palpites, obviamente não requisitados. Joguei contra ele um par de vezes, era um garoto, e provavelmente treinava com frequência. Deu um pouco de raiva porque pensava que já joguei muito melhor e que em outras ocasiões o teria posto para correr nos primeiros cinco minutos. Mas agora, era ele quem ganhava e era um chato!

 

Entretanto, um chato útil, porque também foi ele quem nos avisou que havia uma mesa “das antigas” em outro bar ali perto.

 

Decidimos ir embora, já meio cansados e porque não dizer, todos com cara de nádegas, meio frustrados por não conseguir jogar como se esperava. O desânimo coletivo paradoxalmente nos animou, o problema não era nosso, era da mesa, claro!

 

Na saída, resolvemos procurar o outro bar do totó antigo, ficava meio escondido, mas Luiz o encontrou. Um pub pequeno, com uma mesa no minúsculo andar de baixo, que não deveria ter mais do que 5 m2, e onde não havia ninguém. Ou seja, ficamos com nossa salinha privê e uma mesa good old fashion way, com jogadores de madeira. Para mim, o paraíso!

 

Suei como se estivesse praticando um esporte radical e bebi nada mais do que água, porque não queria me desconcentrar, além de uma sede mortal. Luiz, fiel com seu Jack Daniel’s, foi um cavalheiro e segurou a onda na defesa. Somos dois jogadores de ataque, mas ele quebra meu galho. O casal de amigos, se revezava entre ataque e defesa e foram partidas emocionantes e equilibradas. Bom assim, gosto de adversários que dão trabalho.

 

Não jogo mais um terço do que pude um dia, acho que nunca jogarei, mas aos poucos fui recuperando a mão. E aquele barulho da bola batendo na madeira, para mim é música. Não conheço uma maneira mais elegante de falar que a porrada que a gente dá na bola e o tá-tá que ela faz quando bate no gol adversário é algo que me tira do sério, no bom sentido, adrenalina na veia.

 

Foram mais de vinte partidas e quando Luiz parecia que ia derreter e o casal de amigos insinuou achar que era hora de ir, resolvi ser razoável e aceitar. Fomos felizes pela rua, apesar de reclamar de dor no pulso, no joelho, nas costas, doía tudo! Foi quando descobri que passava das 2:30hs da matina e que estávamos jogando a, pelo menos, umas quatro horas seguidas! Como assim? Já?

 

Hoje acordamos como um casal de velhinhos. Luiz colocando compressa de água quente no braço e eu me sentindo como se tivesse dançado a noite toda. Uma dor nas costas humilhante!

 

E o pior é que estou louca para voltar. Junkie total!

 

6 comentários em “65 – Futebol totó”

  1. Oieeee!

    Puxa, e eu perdi a sua reestréia no totó… snif, snif. Isso que dá ter uma bagunça gigante provocada por mudança de casa e não achar o carregador do celular a tempo… mas tudo bem!!!

    Espero logo ter a oportunidade de dar umas “porradas” em uma mesa destas – das antigas, claro.

    Agora, isso de que no Sul chamam totó de Fla-flu… huuuummm. Sei não. “Lá dadonde” eu venho, em SC, o povo chama de “futebol de mesa” ou de totó mesmo… nada de Fla-flu. hehehehehehehehe. Mas é possível que isso role no PR ou no RS… vai saber. Aquele povo é meio doido mesmo. [;)]

    Mas começo já a campanha… EU QUERO TOTÓ, EU QUERO TOTÓ…

    Beijossssss

  2. Oi!

    Pois é, perdeu… mas não perdeu tanto assim, não foi exatamente um show de habilidades… hehehehehe… uma pena porque você foi uma das grandes incentivadoras da volta do totó, mas tudo bem, fica para próxima (que obviamente haverá).

    Foi uma amiga de Floripa quem me disse que por aquelas bandas chamava fla-flu. Aparentemente, os primeiros bonecos eram pintados com camisas do flamengo e fluminense, o que gerou o nome. Bueno, para mim também é totó!

    Besitos

  3. Oi Bianca
    Também adoooro jogar pebolin. Outro dia num aniversário de um filho de uma amiga tinha uma mesa destas novas ai que voce mencionou, era meio curvada nas laterias para a bolinha não parar no pé do atacante, era difícil de controlar e achei uma merda também, no prédio da minha mãe tem uma das antigas que a gente adora jogar.
    Beijos.
    Marianne.

  4. Bianca, você me fez voltar no tempo, não com o pimbolim, que eu era ruím pra caramba, mas com o ping-pong (ou tênis de mesa, se você preferir). Quando eu era garoto passava férias de verão num prédio onde, após a praia, a garotada jogava ping-pong o dia todo (literalmente). A gente tinha um jogo chamado “reinado”, ou “manda”, onde o jogador que fosse ganhando ia “mandando” seus colegas de mesa para o outro lado, até ficar sózinho. Aí, teriam que ganhar de você três vezes seguidas pra mandarem alguém de volta. Eu passava as tardes jogando sózinho de um lado da mesa, tão viciado (e bom) eu era na coisa.

    Passaram-se +30 anos e um belo dia eu me acho jogando “manda” com uma garotada. Pra minha surpresa eu não mandava ninguém pro outro lado e era mandado pra lá e pra cá, como seu eu fosse a bolinha de ping-pong.

    Não aceitei a derrota da idade com a resignação que deveria e apelei para os truques de adulto: abri uma cervejinha pra relaxar. Meu jogo melhorou muito e se não voltei a jogar o que jogava na infância, pelo menos pararam de me atirar de um lado pra outro.

    Moral da história: o Luiz tá certo; se você tivesse tomado Jack Daniels com ele (gente, com o calor que deve estar em Madrid é coisa de louco) seu jogo teria voltado antes.

    Bjs

    Augusto

  5. …heheheh… será que foi isso, Augusto? Pois da próxima vez pedirei um Oban ou um Lagavulin e faço o teste! Se o jogo não ficar melhor, pelo menos será mais divertido! Sabia que a culpa não era minha… faltou combustível!

    Besitos

  6. Oi, Marianne! No Brasil, a última vez que me lembro de jogar também foi em um aniversário de criança, em uma dessas casas de festas. Nos apoderamos da mesa de futebol totó e as pobres criancinhas nem podiam chegar perto… heheheh… mas também, eles tinham a piscina de bolas de plástico, né?

    Besitos

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