64 – O tenor da Renault

Algumas vezes, escuto da minha janela uma voz de tenor, cantando em italiano. Voz de ópera mesmo, o indivíduo canta bem. Sabia da onde vinha, de um prédio comercial baixo, que fica logo em frente do nosso edifício, e todos os dias solta cheiro de pintura automotiva.

 

Gosto de escutá-lo cantando, mas nunca o havia visto. Ele canta e eu continuo martelando o teclado, às vezes diminuo o ritmo para ouvir melhor. Em agosto, não o escutei mais. Fiquei na dúvida se ele estava de férias ou havia mudado de emprego.

 

Sou uma pessoa muito visual, portanto, escutava a voz e imaginava o cidadão. Forte, mais para barrigudo, por que toda vez que escutamos uma voz potente, imaginamos uma pessoa grande ou gorda? Alto, pele clara, deveria ser italiano, espanhol não canta em outro idioma normalmente, talvez meio calvo. Devia ser bem humorado, porque trabalhava cantando.

 

Bom, hoje a voz voltou e não aguentei a curiosidade, tô dizendo que ando uma cotilla. Uma janela do outro lado aberta, só podia ser de lá. Era. Óbvio que o cantor era totalmente diferente do que imaginei, alto, corpo normal, não era nem gordinho, moreno claro com bastante cabelo, razoavelmente jovem, uns 40 anos, pele mal tratada e de óculos. Não sei se o óculos era só para proteger enquanto ele fazia a lanternagem do carro. Usava um macacão da Renault, mas de paletó preto, diria que era o contador da empresa.

 

Deu uma vontade de brincar e começar a aplaudir. Mas fiquei com vergonha e com medo de ser mal interpretada, sei lá. Quando vi que ele iria virar, saí logo da varanda, acho que ele não me viu, mas provavelmente percebeu meu vulto, ou seja, que tinha público. Aí é que se empolgou!

 

Já inventei a história toda, é um imigrande italiano. Seus pais eram apaixonados por ópera e ele escutava desde criancinha. Entretanto, não teve condições econômicas de se dedicar a essa paixão pela música. Casou-se com uma espanhola e quando a primeira filha nasceu, foi trabalhar em oficinas mecânicas. Seu sonho é que um dia um produtor musical passe pela rua e descubra seu talento. Pronto!

 

Eu me divirto!

 

4 comentários em “64 – O tenor da Renault”

  1. Xiiii… o metrô é uma fábrica de loucos! Houve uma época que escrevia sobre os esquisitos que via pela rua, mas hoje em dia, acho que me acostumei e eles não chamam mais atenção… heheheh… ou então, tambem fiquei esquisita, né? 🙂

    Besitos

  2. Oie!

    Adorei mais essa crônica da sua vizinhança… que bacana a história desse cara.

    Agora, vem cá, podias descobrir se o homem é solteiro ou não, né? Gostei do perfil dele. [;)]

    E claro que estou perguntando sobre o estado civil dele porque tenho segundas intenções… hehehehehhehehe

    Beijossss

  3. Putz, Alê, do pouco que vi, ele é feio pacas… hahahahah… e você já me imaginou chegando em uma oficina mecânica para perguntar se o indivíduo é solteiro… porque quero apresentá-lo para uma amiga… hahahahah… sorry, não vai rolar!

    Besitos

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