Na sexta-feira, foi feriado, dia da Virgen de la Paloma. E quem é la Paloma? Bom, esse negócio de explicar santo é muito complicado. Teoricamente, a padroeira de Madri é Almudena, inclusive, é o nome que leva a catedral em frente ao Palácio Real. Mas também se venera São Isidro. Até aí, mais fácil, porque se diz que a padroeira é Almudena e o padroeiro é Isidro. E a Paloma, onde entra? Aparentemente, é a padroeira do coração.
Que me perdoem os devotos, mas não sou lá muito católica, muito menos politicamente correta. Portanto, imagino que seja algo como torcer para escola de samba, a gente torce pela nossa, mas sempre há algumas escolas a quem somos simpatizantes.
O que importa nesse momento é que espanhol adora uma festa de rua, e em função da Paloma, são três dias de comemoração no bairro de La Latina, um dos mais castiços da cidade. Parece uma super quermese, onde não se entende bem onde para a fé e começa a farra. Apesar de que esse conceito de mesclar o sagrado e o profano não é coisa só de espanhol.
No sábado bateu curiosidade de ver como estava a festa. Também já estava meio cansada de ficar em casa, queria passear e ver gente. A temperatura não podia estar melhor e fico louca para estar ao ar livre.
Começa com uma procissão, que não fomos, da imagem da santa, tudo com muito respeito. Essa imagem vai para a Plaza de la Paja e fica lá iluminada. A propósito, é onde fica a igreja de San Isidro. Acontece que, nessa mesma praça e seus arredores, rola a maior festança! Tem apresentações de Zarzuela, bancas de comidas e bebidas, pessoas em trajes típicos, enfim, tudo muito animado e que não lembra exatamente uma festa religiosa.
O público é bem diversificado. A maioria é gente jovem, mas se encontra com facilidade de todas as tribos, famílias, crianças, espanhóis, estrangeiros, turistas, idosos, mendigos, alternativos, todos na rua convivendo tranquilamente. Logo que chegamos, vimos algum movimento de carros de polícia, mas verdade seja dita, me pareceu tudo muito pacífico. Apesar das pessoas estarem bebendo, dançando e caminhando pela rua, não vi nada nem próximo a confusão.
Os trajes típicos são interessantes. Você encontra vários casais pela rua, o homem com um terninho e chapéu, a mulher com vestido e flor na cabeça. Estava louca para fotografá-los, mas não queria incomodar ninguém. Até que passou um casal de senhores guapísimos! Não resisti, tentando disfarçar, tirei uma foto meio de lado, meio de costas. Mas a senhora me viu e olhou para trás sorrindo. Bom, foi minha deixa para sorrir também e pedir com a cabeça se podia tirar outra foto. Ela rapidamente se ofereceu me chamando, venga a por una foto con los abuelitos, que así llevarás una buena recordación de La Paloma! Pode haver algo mais simpático que isso? Pois tiramos fotos, Luiz e eu, de braços dados com eles.
Todos os bares da redondeza colocam balcões e mesinhas do lado de fora. Cada um tenta chamar mais atenção que o outro, com decorações diversas, envolvendo bandeirinhas, bolhas de sabão, luzes e música alta.
A música é bem variada, desde tradicionais espanholas à eletrônica, tem de tudo e ao mesmo tempo. É um pouco de poluição sonora, os vizinhos não devem ficar muito felizes, mas convenhamos, uma vez ou outra não mata ninguém e é divertido.
Não é incomum ver sobre os bares lotados de gente bebendo álcool, a imagem da santa iluminada ou em destaque. Pode parecer contraditório, mas ainda que ache curioso, não me choca. Acho até que fala muito sobre a cultura local.
Paramos no Txakolí, uma taberna de pintxos vascos de nome para mim quase impronunciável. Pinchos são um tipo de aperitivo pequeno e individual, como torradas, sanduichinhos, coisas assim. Em euskera, língua falada no país vasco, se escreve pintxos. Essa taberna fica na Cava Baja e na minha opinião serve os melhores pintxos da cidade. O problema é que muitas outras pessoas sabem disso e você precisa praticamente se estapear no balcão para conseguir ser atendido. Entretanto, ontem, acredito que pela quantidade de opções, estava cheio mas não impossível. Justo em frente, havia na rua um DJ bastante jovem tocando música eletrônica. Acho que era onde havia a maior concentração de pessoas dançando.
Resolvemos voltar caminhando, o que adorei, ando sentindo muita falta das caminhadas, mas no verão complica um pouco. Em plena Puerta del Sol, descobrimos que era noite de eclipse. Minha digitalzinha não dá conta do recado, mas pelo menos consegui registrar o momento.
Boa parte do caminho, vim tomando um sorvete incomensurável e prestando atenção na evolução do eclipse. O sorvete, Luiz precisou terminar e o eclipse, precisei abandonar porque, vou logo entregando, ele pediu arrego da caminhada e me convenceu a pegar o metrô.
Chegamos em casa com a lua quase cheia novamente. O eclipse, ou quem sabe La Paloma, amenizaram seus efeitos. Passamos na frente dos bombeiros, que se encontravam todos do lado de fora batendo um papo animado. Aparentemente, foi uma noite calma.
Quando eu crescer, também vou ser assim. Só tomando vinho, indo a festas, comendo pintxos, tirando fotografias com velhinhos fantasiados, vendo eclipse e, quando ficar cansado, voltando de metrô. Ô vida !
hahahahaha… a vida é dura, mas alguém tem que fazer o sacrifício! E você acha que vou ficar aqui pagando recibo e contando a parte difícil? 😛
Besitos
Oi Bianca
As fotos estão ótimas. Voce com o casal de velhinhos ficou uma graça.
Tinha até umas moças com chifres luminosos na cabeça né? Realmente tinha de tudo.
Olha essa vida dura que voce tem ai é de dar inveja viu.
Beijos.
Oi, Marianne!
Essa época de agosto, tem muita festa de rua pela Espanha inteira. Quando não tem, eles arrumam, a Bahía é aqui, menina! Mas a partir de setembro já dá uma diminuída na agitação. O ano começa em setembro. É mais ou menos como no Brasil, depois do carnaval.
Besitos