46 – A gentileza é patrimônio universal

  

Ontem fui ao lançamento do livro de um amigo sobre o Rio de Janeiro. Na verdade, ele é o editor e coordenador, porque além da sua, há outras participações nesse projeto. Enfim, vamos ao que interessa, esse amigo é de Canárias, ou seja espanhol, e o curioso é que ele é totalmente apaixonado pelo Brasil, mais especificamente pelo Rio.

 

Não basta ser apaixonado por um lugar e não conhecê-lo realmente, o que não é o caso. Atrevo-me a afirmar que ele conhece o Rio como um carioca. Entende suas diferenças e o milagre de dar um jeito em congregá-las numa harmonia insana, tudo ao mesmo tempo e no mesmo lugar. E o que para mim é fundamental, não o faz de maneira condescendente.

 

Mas enfim, não cabe agora minha declaração de amor pela cidade, tampouco as velhas críticas conhecidas. Quero me centrar é no fato de que às vezes a gente precisa que alguém de fora nos mostre, ou pelo menos, nos lembre o que é a nossa essência.

 

Desde domingo, quando conversei com esse amigo, sinto um orgulho danado por ser brasileira. Fiquei feliz em ter ido ao Brasil há pouco tempo e de ter desfrutado essa experiência de reconhecer o que nunca quis perder, mas fui deixando para trás.

 

Transcrevo um trecho do livro que me fez finalmente cair uma ficha importante: “En general, puedo afirmar que la experiencia estética carioca mejora al ser humano, le fortalece ante las adversidades y fomenta el espíritu de colaboración, la pertenencia a un grupo. Es una solución para la soledad y la apatía, pero exige un espíritu abierto y la ausencia de prejuicios. Así se podrá ser carioca.” (Carlos Javier Castro Brunetto)

 

É notório que nos últimos meses venho perdendo a capacidade de me adaptar. De certa maneira, a má vontade que percebi ao redor em relação a tudo que vinha de fora me influenciou. Fiquei parecida, preconceituosa. E o que menos gosto de admitir, fiquei magoada. É como se de repente, sentisse vontade de responder na mesma moeda, você não quer saber o que posso agregar, você me generaliza, então também não me interesso por você.

 

É razoável, é justo, mas não fez minha vida melhor. Pelo contrário, diminuiu meu mundo. E não o fez pelo fato de parar de me interessar, mas porque me afastou da minha própria essência, tão brasileira e tão carioca. Quando cheguei aqui, no fundo, tentei me adaptar não porque era eu a estrangeira; a verdade é que eu já era assim. Independente do país em que estivesse morando, já fazia isso antes. Estar aberta ao que observo ao redor não era uma concessão, era minha natureza. Ao deixar de fazê-lo, me afastei de mim.

 

Pois da mesma maneira que um subjetivo rechaço espanhol me contagiou, a generosidade espanhola me trouxe de volta. Porque bem e mal há em todo lugar, cabe decidir que lado alimentamos.

 

Portanto, hoje faço de verdade as pazes com a cultura local, por que não? Tomar essa decisão me trouxe o alívio de não ter culpa nem rancores por adorar essa cidade e admirar o lado bom das pessoas outra vez. O paradoxal é que o simples fato de querer me reaproximar da Espanha, reforçou minha identidade brasileira.

 

Talvez porque tenha reconhecido que gentileza é um patrimônio universal, ou quem sabe, tenha lembrado como é ser carioca.

 

 

 

 

 

 

  
 
 

 

 

 

 

 

 

2 comentários em “46 – A gentileza é patrimônio universal”

  1. Lindo vc falar de generosidade……é uma palavra que eu uso bastante pra definir os espanhóis. Generosos e solidários….
    Mas tambem me sinto às vezes como você: fico “de mal” com a Espanha….depois passa.

    Beijoscas!!!

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