Toda primeira terça-feira do mês, comecei a participar de um jantar com artistas latino americanos. Quer dizer, começou com essa regra, mas não é tão rígido assim, também vão alguns espanhóis, além dos maridos ou esposas artistas.
A idéia não é isolar ninguém, mas a verdade é que quando você vem de fora fica meio perdido, e é um bom pretexto para encontrar gente que está ou esteve em uma situação parecida à sua. Todos nós questionamos na veia as próprias identidades culturais, elas nos batem na cara todos os dias. E de toda maneira, acho o trabalho do artista muito solitário, portanto é bom poder trocar idéias e experiências com outras pessoas. Acho uma forma interessante de ampliar a rede de contatos.
Enfim, cheguei indicada por outro amigo artista brasileiro e o primeiro encontro que fui, foi exatamente na semana da ARCO e um dia antes da inauguração da tal exposição onde fui curadora. Ou seja, estava super cansada e ocupada, nem fiquei até o fim do jantar.
Na segunda vez que fui convidada, estávamos de férias na Suíça. E a terceira vez foi ontem. Compareci.
Vou ser franca, estava na maior má vontade em ir, principalmente porque chegaria absolutamente sozinha, conhecendo pouca gente e só de vista. Meu único amigo brasileiro não ia. Estava ainda traumatizada com a ARCO, pensando se realmente devo seguir esse caminho.
Nesses momentos, me lembro do meu mentor artístico espiritual: Giacometti. Seu trabalho era um pouco sofrido, quase neurótico, uma vez lhe pergutaram porque ele expunha então, e ele respondeu: para mostrar que não tenho medo.
Nessas situações, quando me pergunto por que continuo? O que vou fazer lá? Por que não invento uma desculpa qualquer? É essa a resposta que me vem na cabeça, pois no mínimo, para mostrar que não tenho medo.
Tenho um tipo de disciplina mental que quando percebo estar fechada à alguma situação, respiro fundo e penso que posso tentar aceitar, recito meus mantras particulares e me disponho a aproveitar o melhor possível, de verdade e de coração aberto. Primeiro resmungo para burro, mas depois, pelo menos eu tento. Se fui convidada a qualquer coisa, deve haver algum motivo.
Na única vez que fui a esse jantar, havia sentado ao meu lado um artista que achei legal, sabia seu nome e me pareceu bem acessível. Ontem, logo que cheguei ao local marcado, o vi entrando alguns segundos na minha frente. Pensei, bom preságio, já tenho alguém para cumprimentar, conheço pelo menos uma pessoa. Pouco depois descobri que eu era a terceira a chegar, primeiro o organizador, que para alguns é um pouco intimidador, depois esse conhecido e em seguida euzinha. Foi bom, encarei logo a fera no começo e o tal organizador nem me pareceu tão intimidador assim, estava em uma situação parecida à minha, era de carne e osso e foi bem simpático.
Resolvi usar a estratégia mais velha e eficiente do mundo, sorri. Não foi difícil.
As pessoas foram chegando e fui fazendo novas amizades. Não dá para falar com todo mundo porque é uma mesa comprida, mas ao final, o grupo que estava na mesma área da mesa que eu, saiu para esticar um último drink. Imagina, eu que nem queria ir, estava ali com novos amigos esticando a noite e me divertindo, típico. Foi ótimo!
É um alívio encontrar gente que compartilha angústias e dúvidas parecidas e assim mesmo insiste em buscar alternativas. A arte não vai acabar, assim como a vida também não. Nem falamos de arte o tempo inteiro.
Tenho planos de encontrar meus novos amigos, mas se não encontrar, tudo bem. Por uma noite lembrei que faço parte dessa raça de insanos e que as coisas chegam ao seu tempo.
Era uma pergunta natural a de quantos anos levávamos em Madri, de maneira que respondi várias vezes: três anos. Levo três anos aqui, três anos pode ser uma vida e três anos não é nada. Como de repente isso é só uma fração de tempo? Repetir isso tantas vezes me pareceu diminuir seu peso, sua intensidade.
Prova superada. Acho que estou onde deveria estar e ainda posso tanta coisa.
Eu perdi “justo” esse!!!
lo siento!!! rrsrsrss
Oi, Marlon! Que legal você por aqui! Viu só? Perdeu justo esse… heheheheh… Tem nada não, todo mês tem um.
Besitos