11 – Comemorações e mudança

A experiência sempre serve para alguma coisa e em mudanças, sai de baixo que tenho muita!

 

Gosto de levar coisas pessoais primeiro, como roupas, documentos, um par de pratos e de copos, cafeteira, objetos do dia-a-dia do nosso gato, enfim, o que viabilize se viver antes de abrir as malfadadas caixas de papelão que fazem parte da minha rotina. Para complicar, ainda tenho alguns trabalhos de arte que poderiam se destruir em movimentos bruscos e também prefiro levá-los pessoalmente. Isso parece pouco, mas não é.

 

De cara, no primeiro dia que vim limpar o apartamento novo e arrumar as roupas, dei um jeito nas costas. Uma bobagem, nem estava fazendo tanta força, foi mal jeito, só que ficou difícil até para andar. Putz, grilo! Ninguém merece! Tô uma velha mesmo!

 

Sabia que tinha o fim de semana para adiantar o possível, antes da companhia de mudança entrar como um furacão nos apartamentos. Por isso, tirei a quinta e a sexta para adiantar o que desse sozinha e no sábado e domingo faria o resto com Luiz. Finalmente, na segunda-feira, a empresa faria a mudança do pesado. Pronto, tudo planejado e acertado, com calma e com tempo, certo? Óbvio, meus planos já se embolaram na própria quinta, com as costas ferradas.

 

Não tinha muito o que fazer, voltei para casa, me entupi de dorflex e deitei para esperar Luiz. Ele chegou meio tarde, porque era dia do coral, mas me trouxe um outro relaxante muscular de cavalo, me ajudou com uma pomada de Voltarén e desenterrou uma cinta dessas que a gente coloca para fazer força com as costas na posição correta. A tal da cinta foi a salvação da lavoura e não a abandonei por mais ou menos uma semana, é bom para proteger e te condicionar ao movimento correto. É fato que me deixou com a maior pinta de lenhadora, tem uns suspensórios nada charmosos que me deixavam com um pouco de vergonha nos primeiros dias, depois desencanei.

 

Bom, a essa altura já sabia que não íamos conseguir comemorar decentemente nosso aniversário de casamento na semana seguinte, fazer uma festa no apartamento antigo, nem pensar! Não tinha condições físicas para organizar. Mas tinha um plano do cebolinha que era jantar na sexta-feira no Trifón, que todo mundo sabe que é meu restaurante favorito aqui, e convidar alguém para dividir o momento conosco. Não é um lugar muito barato e não tenho cacife para fechar o local ou convidar um monte de amigos, então convidamos um casal muito querido, que por coincidência, também fazia aniversário de casamento naquela semana. Perfeito!

 

O restaurante ficava a uns dois minutos a pé de casa. Eu é que não ia com a cinta protetora e um sapatinho baixinho, né? Que se dane as costas! Só entro na chuva para me encharcar! Fui caminhando apoiada no braço do Luiz a uma velocidade ridícula e mais dura que um pedaço de pau, mas entrei no lugar com salto alto e classe.

 

Encontramos nossos amigos e chutamos todos os paus de barracas, pisamos em todas as jacas e chutamos todos os baldes! Não ficou nenhum! Foi uma garrafa de champagne, duas de vinho e finalizamos com doses de whiskies (sim, no plural, foram algumas de alguns) para acompanhar o charuto, é claro. Quem disse que ainda sentia dor nas costas? Não sentia mais nada, nem as costas, nem o rosto, nem a boca… nada!

 

Levamos nossos amigos para conhecerem o apartamento novo e, dessa vez, aceitamos a ajuda para ir comprar e montar uma tenda no terraço, no dia seguinte. Eu não estava sentindo dor naquele momento, mas sabia que era por causa do álcool, não teria condições de levantar peso depois. Era uma tarefa mais adequada para os meninos.

 

A verdade é que saí do apartamento novo bem mareada e quando cheguei em casa, passei mal horrores. Exagerei. Coloquei até minha alma para fora e acordei um absoluto bagaço! Luiz acordou melhor e foi com nosso amigo adiantando as coisas no apartamento. Fiquei na cama tentando encontrar algum arrependimento pela noite anterior, coisa que não aconteceu. Eu adorei!

 

Já estava com as costas ferradas, agora também estava de ressaca, pronto! Chegou um momento em que a disciplina foi maior que o bode. Tinha que levantar, foda-se! Levantei e fui para o apartamento ajudar os meninos e levar algo para eles comerem. Para “eles” comerem porque mal aguentava o cheiro de comida. Foi quando descobri que minha amiga também estava em situação parecida e, pelo que averiguei depois, também nem um pouco arrependida. Mulheres são fogo!

 

todas as noites são iguais, os meninos satisfeitos, as meninas querem mais… já dizia Capital Inicial.

 

Fui melhorando por completa falta de opção e quando vi o apartamento novo ganhando personalidade, me animei. A tenda que os meninos montaram ficou show! Trabalhamos até o comecinho da noite e de lá fomos buscar nossa amiga e jantar os dois casais novamente. Já estava passando bem e comemos uma super gigantesca pizza, com muita coca-cola! Gordura e coca-cola, tudo de bom para fechar de vez uma ressaca!

 

Dormimos cedo e, no domingo, começamos pelas 8:30 com a corda toda! Nesse mesmo dia, Luiz me deu a feliz notícia que não conseguiria estar comigo na segunda-feira e que eu receberia o povo da mudança sozinha. Por alguns segundos, honestamente, quis matá-lo! Ele me conta isso na véspera? Achei melhor ser prática, então faremos mais viagens hoje e levamos mais algumas coisas. É cansativo, mas compensa depois. Ele me perguntou se deveria chamar nosso amigo novamente para ajudar, em princípio, achei que não precisava, sempre evito colocar as pessoas nessas roubadas, mas no final não teve jeito e aceitamos ajuda de muito bom grado. Que bom é poder contar com os amigos!

 

No domingo mesmo, já dormimos no apartamento novo. A cama de casal da proprietária ficou, tínhamos todas as roupas e a casa estava limpa. Bom assim, porque o Jack foi se acostumando ao local e poderia ficar tranquilo no quarto enquanto o turbilhão da mudança entrava no resto da casa. Claro que não preguei o olho a noite toda, ainda que estivesse bem cansada. No dia seguinte, queria estar no apartamento antigo pelas 7:30hs, antes da equipe chegar e assim foi.

 

Às 8:00hs, quando eles pontualmente chegaram, estava eu com minha cinta de lenhadora e as botas de trekking, prontinha para a guerra! Não tenho frescura e boto a mão na massa mesmo, funciona melhor e você ganha respeito. Nesse caso, foi importante, porque, dos quatro homens da equipe, um ficava no caminhão e dois eram totalmente iniciantes. Tudo bem, eles se reorganizaram e o rapaz do caminhão também subiu para ajudar a embalar a parte de cozinha. Com todas as caixas e móveis baixados, por volta das 13:30, eles fizeram uma pausa para almoçar. Foi exatamente a hora que chegou Luiz e fomos comer rapidamente.

 

Em seguida, nos encontramos todos no apartamento novo. O polaco, que gerenciava o grupo,  subiu para montar o futon no terraço, a essa altura já confiava na minha experiência operacional e pediu que eu organizasse os dois calouros na arrumação das caixas e dos móveis. Os dois, que a propósito eram brasileiros, estavam mais espertos e, apesar de não saberem bem o que fazer, não eram nada preguiçosos e deu tudo certinho. Por volta dàs 17:00hs a confusão estava encerrada.

 

Agora era só abrir, limpar e arrumar… as 88 caixas! Quem disse que gente que muda muito não tem rotina? Sejam bem vindos à minha!

 

Muito bem, na terça-feira, dia seguinte à mudança, era 18 de março, nosso aniversário de casamento. Quem lembrou? O casal de amigos que jantou conosco na sexta, claro! Sim, a gente esqueceu… felizmente, nós dois esquecemos juntos. O amigo ligou de manhã para dar os parabéns ao Luiz, que levou alguns segundos para entender do que mesmo se tratava os tais parabéns, mas fez de conta que lembrava e agradeceu. De-ses-pe-ra-do, ligou correndo para mim, fingindo que havia lembrado e só estava esperando o melhor momento para falar comigo. Ouvi pensando, puta-que-pariu-que-furo-esqueci-completamente, mas também fiz voz de quem sabia e estava só esperando ele me ligar para dizer.

 

Confessamos nosso delito de memória à noite, quando fomos jantar em um restaurante simples e bem pertinho de casa, mortos de cansaço! Reforcei o quanto ele era um homem feliz por eu nunca me lembrar direito das datas, porque algumas moçoilas se lembram o dia que se conheceram, o primeiro beijo, o dia do noivado etc. A gente não sabe nada disso, só lembramos o dia do casamento. Tanto para mim, quanto para Luiz, a comemoração já havia sido na sexta passada e desencanamos. Estávamos exaustos!

 

No sábado, cinco dias após à mudança, abri a última caixa, com o apartamento praticamente todo arrumado. O que fazer? Alguém tem dúvida? Uma festa! Bom, foi pequena porque tinha um monte de gente viajando e era bem em cima da hora para chamar os amigos. Além do que, eu sem internet me transformo em um ser anti-social. Então, fizemos a inauguração não oficial um pouco improvisada, mas ótima para começar com boa energia.

 

Não sei quanto tempo poderemos ficar nesse apartamento, foi uma oportunidade rara que nossos amigos dizem ter sido merecida. Não sei se mereço, mas espero que sim, porque quando a gente merece dura mais. Também não quero me preocupar com isso agora, uma coisa de cada vez. Por hora, é disfrutar o momento de viver em um lugar que é a cara do Brasil, que tem me ajudado a matar a saudade e me proporciona confortos que havia deixado para trás. Como sempre, sinto que de alguma forma continuo protegida e que quando faço perguntas, as respostas chegam.

 

 

6 comentários em “11 – Comemorações e mudança”

  1. Oi Bi,

    não tem como postar umas fotos do apê pra gente sentir o gostinho?

    Beijos,
    Claudia

  2. Oi, Claudia! Tem sim, antes não dava, mas já já vou postar.

    Imagino que seja a Claudia da Alemanha, né? É que você não dá muitas dicas, mas sempre acho que é você pelo jeito de falar… heheheh… enfim, se você é você mesma, quando vem a Madrid conhecer o barraco novo? 🙂

    Besitos

  3. Oi Bi,

    vou passar a assinar Claudia Ale, assim você vai ter certeza que sou eu.

    Não sei quando poderei que ir a Madrid de novo, mas estou super curiosa pra conhecer o apartamento novo. Principalmente o terraço. Pareço um sonho numa cidade tão grande como Madrid.

    Espero que você fique por aí tempo suficiente pra eu chegar a conhecer.

    Beijos,
    Claudia Ale

  4. … agora sim, Claudinha Ale! Perfeito! Tô te esperando e dá até para fazer churrasco com picanha! Você tem atendimento vip 🙂

    Besitos

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