XXVIII – Filho de Peixe

As pessoas quando viajam tem o costume de levar presentes ou lembranças para seus familiares. Os presentinhos de viagem variam dependendo do dinheiro, paciência ou tamanho da mala. Camisetas com o nome da cidade, bolsas de marca, miniaturas dos principais monumentos, aparelhos eletrônicos, coisas assim. 

Minha família leva comida! E o pior é que costuma ser o presente que mais agrada. 

Meus pais vieram nos visitar em outubro. Ainda no Brasil, me perguntaram o que queríamos que trouxessem. Do que sentíamos falta? Minha lista saiu rapidamente: carne seca, paio, costelinha defumada, pimenta malagueta, cachaça… Digamos, um kit-arataca. 

Não sabíamos se isso tudo passaria pela alfândega, porque oficialmente é proibido entrar com carnes no país, mas não custava tentar. Ao passarem pela saída do desembarque, a primeira frase do meu pai não foi “oi” nem “que saudade”, mas feliz da vida me disse: a feijoada passou! E eu mais feliz ainda, é claro! 

É verdade que ainda tinha carne seca no congelador. Recebo carne seca pelo Sedex! Meu pai compra no mercado embalada à vácuo e minha mãe põe no correio em Copacabana. Chega aqui em Madri na minha porta. A carne seca mais cara do mundo! Mas como me deixariam passar essa vontade? Pensando bem, acho que sou meio mimada, né? 

Bom, quando chegaram aqui, antes de mostrar o Museo do Prado e a Plaza Mayor, fui logo ensinando onde ficavam os mercados e restaurantes mais próximos. Vai que o armário e a geladeira, abarrotados de comida, não fossem o suficiente! Porque, lógico, havia comprado uma seleção de frios, queijos e comidinhas típicas. 

Comida para gente é coisa séria! Não é um ato realizado unicamente para se matar a fome. Tem um ritual de carinho, amizade, expectativa e, porque não, também uma boa dose de gula. Todos sabem cozinhar, não é uma coisa de homens ou mulheres. E gosto muito que seja assim. 

Como qualquer família, tivemos bons e maus momentos, nossos problemas também. Mas ao redor da mesa, não me lembro de nada de ruim, sempre era bom! A mesa era a Suíça da casa, território neutro. Talvez seja o motivo de até hoje eu gostar de alimentar as pessoas. É quase impossível para mim receber alguém e não oferecer comida. 

E, certamente, na volta ao Brasil, as malas também foram cheias de guloseimas: uma peça inteira de jamón (ibérico de bellota, é óbvio! O alucinante pata negra!), lomo ibérico, fuet, azeitonas com e sem anchovas, mariscos enlatados… afinal de contas, do lado de lá também havia seus amigos e meu irmão.

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