XXV – Os velhos amigos que andam de braços dados

Há muitas pessoas que caminham pela rua. Jovens, velhos, mulheres, homens, grupos, pessoas sozinhas… todo mundo! Tirando a hora da siesta, quando as calçadas se esvaziam, o resto do dia ou da noite, elas estão sempre movimentadas. 

Voltei a usar o verbo “passear”. As pessoas passeiam! Parece não ser muito importante onde estão indo, nem haver uma hora definida para chegar. Recuperou-se a sabedoria canina de aproveitar a delícia de sair de casa. 

Moro em um bairro onde as pessoas são mais velhas, aqui são chamados de “mayores”. Acho muito inteligente isso de quanto mais velho, mayor. E eles também saem para passear. 

Vejo muitos desses casais mayores passeando de braços dados. Vão com um ritmo e sincronia de quem anda junto há muito tempo. São como antigos parceiros de dança. É comum também se ver mulheres mayores andando com seus braços dados. Talvez viúvas, irmãs ou amigas. Mas o que me impressionou mesmo foi ver homens mayores com seus braços dados, normalmente com alguma dificuldade de locomoção. 

Dois homens de braços dados não é algo comum de se ver em uma cultura latina. Há um direcionamento imediato e preconceituoso ao homossexualismo. É algo difícil de se ver com naturalidade, pois por algum motivo louco isso choca. A homossexualidade não me choca e mesmo assim, não tinha em minha memória uma imagem de dois homens de braços dados com tanta naturalidade. Das vezes que vi, sempre me pareceu um pouco constrangido, provocador ou com intenção de humor. Não quero nesse momento levantar bandeiras, talvez o faça outro dia, mas hoje não. Só estou colocando a carga de pudor que existe em um gesto que é razoavelmente simples, ou que deveria ser. 

E não é só isso, acredito que também há um peso da masculinidade, onde esse gesto poderia significar assumir uma fraqueza publicamente. Ao homem foi dada a função de protetor e nunca de protegido. É difícil para meu marido me ver com frio sem me dar seu casaco, é difícil para meu pai me deixar carregar a mala mais pesada. Vai muito além de um machismo bobo, simplesmente é difícil para eles. 

Portanto, quando vejo dois homens mayores passeando de braços dados na rua, isso me emociona. É definitivo e não requer explicações! Eles colocam os pudores e preconceitos no seu devido lugar, pois há muitos anos estão acima dessas bobagens. Um homem mayor que tem um amigo para apoiar o braço e lhe ajudar a caminhar, só pode ter feito alguma coisa certa na vida. E o amigo que lhe dá esse braço sem a menor vergonha, só pode ser um homem bom. 

A vontade que me dá é de parar na calçada e fazer uma reverência, dessas que a gente faz para reis. Dois velhos amigos caminhando de braços dados é lindo!

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