XLV – Um pouco de história espanhola recente

Para se entender a Espanha atual, principalmente Madri, é importante saber pelo que passaram há bem pouco tempo. Muitas coisas, inclusive, foram semelhantes no Brasil; algumas foram bem piores.  

A falta de liberdade até o final dos anos 70 explica essa vontade de exagerar em tudo. Se sai muito, bebe-se muito, fuma-se muito. É como se houvesse uma urgência em se viver o presente, uma necessidade constante em se fazer o que quer. 

Até 75, foi o período da ditatura de Franco. Na minha opinião, bem mais barra pesada do que no Brasil. Principalmente, porque antes eles ainda enfrentaram uma violentíssima Guerra Civil. Depois houve um período de transição e as últimas barreiras foram caindo a partir de 77.  

Vou dar alguns exemplos. O primeiro deles é em relação à liberdade religiosa. Que não havia! A única possibilidade era ser católico. A diciplina religião foi obrigatória nas universidades até 1977. Dois anos depois se tornou optativa ou não avaliável no ensino secundário. As pessoas que gostariam de ser protestantes, tiveram que esperar até 1980. 

O casamento civil só foi possível a partir de 1978. Até esse momento, só se casava no religioso. Se um casal quisesse realizar a cerimônia civil, devería pedir permissão à igreja católica e passar por intermináveis barreiras burocráticas. 

Os homossexuais eram presos sempre que as autoridades queriam. Como justificativa, bastava dizer que eram exibicionistas ou que estavam causando escândalo público. Considerava-se que eram perigos sociais até 1979. Costumavam ser presos e torturados, nos subsolos de onde é hoje a Puerta del Sol. Muitas vezes, junto com professores delatados por estudantes (espiões contratados). 

As mulheres não podiam trabalhar à noite, nem tinham acesso a trabalhos considerados duros ou significativos, como a mineração e o exército. Em 1988, começaram a entrar para o exército e em 1994 puderam trabalhar nas minas, com autorização do Supremo Tribunal. 

Até 1977, mulheres não tinham o direito a vender seus bens móveis ou imóveis, nem possuir passaporte sem autorização do marido. As raríssimas mulheres que frequentavam uma faculdade eram extremamente mal vistas e consideradas não dignas para o casamento. 

A “camisinha” era mal vista por todos. Proibida pela igreja (até hoje) e ignorada nas farmácias. A pílula era um luxo permitido apenas aos que tinham amigos médicos, pois se necessitava receita e não era simples conseguí-la. A legalização só chegou em 1978. 

O divórcio era proibido até 1981. As pessoas que viviam juntas sem se casar, as adúlteras que mantinham sexo fora do casamento, poderiam ser presas. 

Só existia um informativo. Apenas a partir de 1977, as emissoras privadas puderam emitir suas notícias. 

A pena de morte se eliminou em 1978. 

E por aí vai… 

Observando-se essas datas e fazendo algumas contas, percebe-se que é tudo muito recente. Nos anos 80, surgiu um tipo de movimento conhecido por “La Movida”, que foi como uma explosão de liberdade. Surgiram muitas bandas, artistas, escritores etc. Poucos permaneceram em destaque, foi quase como um grito. Radical e imediato, mas não muito persistente. Muita gente morreu, houve um excesso de consumo de drogas e sexo. Um tipo de movimento hippie atrasado e fora do contexto mundial – com a aids, drogas mais pesadas e quando os países desenvolvidos estavam bem mais maduros. Mas aqui fazia algum sentido. 

Essa poeira baixou e a vida tende ao equilíbrio, felizmente. Mesmo assim, ainda há resquícios muito claros. Os excessos, a maneira de se viver intensamente, a desconfiança das pessoas e a neurose com a perda de direitos. 

Por outro lado, acho louvável como eles deram a volta por cima. Como conseguiram correr atrás do prejuízo e se recuperar dessa forma. É um país culturalmente moderno, economicamente bem e politicamente atuante. Tiro meu chapéu! 

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