Quem chegou até aqui, percebeu que existe uma certa figurinha peluda presente em nossa vida. Aos que não gostam de animais, sinto muito! Mas preciso falar um pouco desse felino, que depois de dividir tantas aventuras, elevou seu status de bichinho de estimação para participante fundamental da nossa pequena família.
Chegou em nossa casa com apenas 40 dias, junto com sua irmã da mesma ninhada. Fui visitá-los pouco depois que nasceram, os rabos eram do tamanho do meu dedo mindinho. Na época, queria uma única gata. Tinha que ser fêmea, pois não queria minha casa como um território marcado por urina felina! Haviam me dito que o macho, quando atingia a adolescência, iniciava a marcação do seu território dessa maneira.
Quando olhei a gata-mãe, com aqueles filhotinhos muito fofos, reconheci logo um olhar cheio de personalidade e dignidade de uma pequena gatinha persa, muito vermelha. Na hora sabia que seria a minha, ou eu dela, no caso dos gatos! Não me deixava pegá-la no colo, que ficasse bem claro que era dona de seu destino, mas não saía de perto de mim com o rabo empinado. Para quem não conhece, o rabo empinado do gato equivale ao rabo balançante do cachorro. Nesse momento, um gatinho distraído levantou sua cabeça e me olhou. Ele era o gato mais apaixonante que tinha visto, tinha cara de neném, lindo! Veio em minha direção, subiu no meu colo e decidiu que eu seria sua dona.
Mas havia dois problemas, eu já estava doida pela gatinha e ele era um macho! Portanto: mijão! A dona do gatil me perguntou porque não levava os dois e expliquei a situação. Ela me informou que, se castrarmos o macho em sua adolescência, ele usa sua caixa de areia normalmente, assim como a fêmea. Pronto, então decidido, a gata eu escolhi, o gato me escolheu.
Luiz me deu o casalzinho como presente de aniversário de 30 anos. Chegaram em nossa casa, em São Paulo, exatamente no dia 9 de novembro de 1999. Batizamos os dois de Jack Daniel’s e Buchannan’s, um bourbon e um whisky pelos quais tínhamos um carinho especial. Eram irmãos, mas muito diferentes, chamados com sotaque bem brasileiro de “Diequi” e “Bucana”. Buchaninha era a nossa inteligente sensível e Jack, nosso pateta feliz.
Os dois foram conosco para Atlanta, não era a primeira experiência com mudanças. Infelizmente, Buchanan já chegou bem doente nos EUA. Fizemos o possível. Enquanto ela respondia à medicação e tinha uma boa qualidade de vida, fizemos de tudo. Um dia ela decidiu que já estava cansada e, com muita dificuldade em respirar, parou de comer. Aceitamos sua vontade e diminuímos seu tempo de sofrimento. Sofremos os três juntos nosso luto pela gatinha que, com metade do peso e tamanho de Jack, era a dona da casa e cuidava de todos nós.
Jack ficou triste e resolveu que era hora de ser um adulto. Não era mais nem tão pateta, nem tão feliz. Foi há alguns meses antes de nos mudarmos para Madri.
Não acaba tão mal. Quando chegou na nova cidade, com quase seis anos de idade, cerca de 42 se fosse um humano, usou mais uma de suas sete vidas, recuperou sua vitalidade e animação. Mas essa é uma outra história…