VI – Entretanto

Entretanto, antes de chegar ao céu, demos uma paradinha no purgatório! 

Entre o fim da nossa estadia contratada no primeiro apartamento da Plaza de España e a entrada no “meio definitivo”de Salamanca, havia um espaço de aproximadamente uma semana sem ter onde morar. Tivemos que correr para  encontrar outro apartamento nesse período. 

Luiz encontrou um estúdio charmosinho, não tão barato, na Calle de Postas, uma ruazinha simpática e movimentada que leva à Plaza Mayor. Ponto positivo: bem no meio da muvuca; ponto negativo: BEM no MEIO da MUVUCA! 

De qualquer forma, não tínhamos muita alternativa, o jeito foi encarar! E lá fomos nós com a casa na cabeça e o gato no colo, em três viagens de taxi, mudando para o segundo apartamento em Madri! Deveria ter guardado o telefone do motorista de taxi do aeroporto que fez tudo em uma viagem só com as malas amarradas no teto. Poderia não ser tão elegante, mas seria tão mais prático! 

O apartamento era bem pequeno, porém estiloso e havia acabado de ser reformado, um charme! Acontece que o prédio, histórico, também passava por reformas e era uma poeira fina horrorosa que insistia em invadir nossa casa temporária. Mas eu a combatia com muita coragem! Colocava panos tampando o buraco da porta e tirando os sapatos ao entrar em casa, hábito que acabei criando depois. 

O fato do prédio estar em obras e dos seus inquilinos serem em boa parte turistas, fazia com que a portaria vivesse aberta. Para uma brasileira criada no meio da paranóia do medo, uma portaria aberta, bem no centro da cidade, com mil pessoas sabe-se lá da onde circulando pela calçada, era a morte lenta e dolorosa! Entrar e sair do prédio, para mim era sempre uma zona de desconfiança. 

Nisso, Luiz precisava ir até Barcelona a trabalho, por três dias eu acho. Imagina! Eu ia ficar so-zi-nha com meu Jack ali? Nem fodendo, Marquinho! Catei o gato e fui atrás dele! Pobre Jack, o gato mais viajado do mundo… 

Não foi má idéia, ainda não conhecia a cidade e gostei muito de Barcelona. Na volta para casa, descobrimos que a portaria sempre aberta nem era o pior dos nossos problemas! Afinal, os turistas não invadiram o prédio, os mendigos não passaram da porta, apesar de sentarem constantemente nos degraus da frente. E para nossa sorte, se existiam ladrões, também não se animaram. 

Há bastante tempo o medo da violência havia entrado na minha vida sem eu perceber, e se instalou na minha cabeça como um reflexo condicionado. Às vezes o medo é bom, porque te protege, mas muitas vezes ele dá trabalho e gasta muita energia. 

Descobrimos que, apesar de todo aquele movimento, estávamos em um local seguro. Talvez até devido ao movimento! Por outro lado, quem conseguia dormir? Um barulho infernal dia e noite! De dia era o barulho da obra, felizmente iniciava depois das 10:00hs, como quase tudo no centro de Madri. Pela noite era gente passando, cantando, berrando… Sem falar que havia um interfone por andar e não por apartamento. No nosso andar haviam dois estudantes franceses, aparentemente muito populares na cidade, e a merda do interfone não parava de tocar, fosse a hora que fosse! Nem sei porque aquela bosta tocava tanto, a porta estava sempre aberta mesmo! 

Também tinha um elevador preservado pelo patrimônio histórico. Daqueles com portas de madeira que fecham manualmente. Estranho, mas charmoso. Porém, se alguém esquecesse de fechar as portas, ele ficava travado no andar em que parou. E é claro que todos os amigos dos populares franceses nunca lembravam de fechar a porcaria das portas! Nem do elevador, nem da portaria! Nós fomos parar justamente no andar dos franceses mais simpáticos e comunicativos do mundo! Não, porque eles tinham que ser muito, mas muito simpáticos mesmo para ter aquela quantidade de amigos! E o pior, amigos que detestavam fechar portas! 

Deu para perceber que foi um saco, né? Mas como não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe…

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