Cafona e impessoal é claro! Mas arrumado, limpo e bom preço, o que era o suficiente para chegarmos. O apartamento foi alugado por três semanas, tempo para procurarmos um lugar para morar. Quase escrevo um “lugar definitivo para morar”, o que seria praticamente uma heresia, afinal o que nos era definitivo?
Jack cheirou cada centímetro do imóvel, que deveria ter mil cheiros das mil pessoas que passaram por ele. O gato ainda estava desconfiado, mas estava bem.
O apartamento ficava na região da Plaza de España, local central e com metrô próximo. Porém isso veríamos depois, naquele momento o que queria mesmo era tomar um banho e dormir como uma pedra. O tal sono dos justos!
Era primavera e ainda fazia um pouco de frio. O aquecimento não funcionava. Descobrimos que havia uma data, no inverno, em que o governo por lei estabelecia que a caldeira deveria ser ligada. Além desses dias, era uma decisão do condomínio. Nosso condomínio, aparentemente, decidiu que não estava frio o suficiente, opinião que eu não compartilhava.
Abri o chuveiro quente para aquecer o banheiro e descobri que a água calcária já havia entupido boa parte do cano por onde escorria um fio de água. Só me faltava essa, Luiz vai ter um troço quando ver esse chuveiro! Mas quer saber, ou por cansaço ou porque estava muito difícil tirar meu bom humor, encarei meu banho de presidiária.
Luiz foi logo depois, enquanto eu já me esparramava na cama com colchão marcado por vários corpos de tamanhos e pesos diferentes. O azul-calcinha do quarto, que em outra ocasião me valeria comentários bem sarcásticos, naquele momento até me ninou. Nem me lembro se quando Luiz voltou ao quarto estava acordada ou desmaiada, mas acho que até o Jack desistiu de cheirar o apartamento e se entregou. Dormimos bem e acordamos no início da noite com fome.