Aturar o processo de imigração não é para qualquer um! Mesmo que seja absolutamente legal, é sempre burocrático e complicado. Mas essa chatice vou me abster de contar integralmente, contarei só esse finalzinho.
Estou no penúltimo passo para conseguir meu NIE, que é a carteira de identidade de estrangeiros. A do Luiz saiu primeiro, como a minha é atrelada a dele, fica pronta depois. Esse passo consiste em ir até um órgão público, no dia que eles marcam, para tirar suas impressões digitais. Aqui se diz “sacar las huellas”, o que sempre me soa como alguém que vai arrancar as minhas orelhas.
Isso quase foi verdade! Com o frio que passei, quase que minhas orelhas caíram! Juro!
É claro que o dia que marcaram para mim caiu num sábado, no dia que marquei também minha festa de aniversário aqui em casa. Ou seja, se tivesse dado algum problema, meu humor na festa seria uma bosta! Além disso, os advogados encarregados do caso não trabalham no fim de semana. Assim que não havia ninguém que pudesse adiantar o procedimento.
Tirar as huellas foi mole! O problema é que antes disso tive que enfrentar uma fila literalmente quilométrica! Nunca vi uma fila daquele tamanho! É de deixar qualquer fila do INPS com inveja! Por sorte, Luiz ainda foi comigo e me fez compania nas três horas e meia esperando em pé, na rua, em um frio de 5 graus. A última meia hora, completando quatro horas de espera, foi um pouco melhor, pois já estávamos dentro do prédio.
Putz! Aturar 5 graus em pé, três horas e meia e sem poder andar muito é de matar! E olha que estava bem agasalhada! Quando nossos pés começavam a ficar dormentes, Luiz e eu nos revezávamos na fila para dar uma andadinha e fazer o sangue circular. O nariz não para de escorrer, é nojento! Mas é igual para todo mundo, todos com lencinhos de papel no bolso.
E nem adianta querer ir embora e voltar outro dia. Primeiro que o “outro dia” vai estar tão cheio quanto, segundo porque você recebe um papel pelo correio com uma data fixa para ir. O meu era dia 05 de novembro e acabou. É quando você se pergunta: o que estou fazendo aqui? Haja saco! Ninguém merece!
Daí, fazer o que? Comecei a tomar conta da vida dos outros, né? Atrás de mim, havia uma moça que devia ser do leste europeu, mas não tenho certeza de onde. Na minha frente, definitivamente hispânicos, mas também não sei de que parte. Talvez equador. Ela com as sobrancelhas pintadas. Não era feia, mas não sei porque, raspava toda a sobrancelha e a desenhava em negro. Ficava horível! Era hipnótico, difícil de não ficar olhando. Mas acho que o marido gostava, parecia apaixonado e ela estava grávida. Na frente deles, tenho quase certeza que eram marroquinas, uma loira e uma morena. Essas já sabiam da fila incomensurável, pois levaram água, frutas secas e pistache. Quase no fim da espera, chegou outra marroquina se fazendo de amiga delas para ver se podia pegar lugar na frente. Não entendo o idioma, mas entendo muito bem os espertinhos, fiquei olhando com a cara bem feia, o que naquele momento não era nada difícil, e a furadora de fila acabou desistindo. Acho que não foi pela minha cara, mas as duas marroquinas também não deviam estar muito afim de quebrar o galho só pela nacionalidade da outra.
Finalmente, chegou minha vez. Fico sempre na expectativa que na hora eles vão me dizer que falta algum papel. Não faltava nada e saquei minhas orelhas, quer dizer, huellas. Agora é só esperar mais quarenta dias e voltar lá para buscar o documento pronto. Aparentemente, a fila é menor, mas não vou marcar bobeira e chegarei bem cedo.
Que bom que ainda pude chegar em casa a tempo de dar uma cochiladinha e me recuperar para a festa de aniversário. Meio gripada, mas satisfeita por, no fim das contas, ter dado tudo certo. Que parto!