Adoro um balcão de bar! Deveria ter aprendido isso no Rio de Janeiro, a cidade especializada em botecos. Não aprendi por um motivo muito simples, desculpa gente, sei que é uma coisa horrível, que é possível que seja execrada com toda razão, é algo imperdoável, repugnante, tentei modificar acreditem, mas eu não gosto de chopp nem cerveja. É duro! Foi um trauma na época em que morei no Rio, um problema social, PORQUE NINGUÉM PERGUNTA O QUE VOCÊ QUER BEBER, o garçon simplesmente conta as cabeças e pergunta em voz alta, de maneira retórica, “x”chopps? Daí tinha que me manifestar timidamente, 20 cm menor que minha altura original, e dizer: é que não tomo chopp. Os olhares confusos se dirigiam a mim, junto com o garçon com um ponto de interrogação na testa, como assim não toma chopp? Será que ela tem algum problema, coitadinha!
Cheguei a tomar as terríveis sangrias só para ter alguma opção alcoólica fresquinha nos bares. Quando mudei para São Paulo facilitou minha vida, o clima mais ameno da cidade me dava outras opções, como o whisky. Além de poder apreciar a deliciosa cachacinha, entre minhas bebidas favoritas. A cultura do vinho ainda era iniciante. Sou da época onde um restaurante oferecia as opções “vinho branco” e “vinho tinto”. Depois melhorou, você ainda podia escolher entre seco e suave (mesmo que fosse só no nome). E eu, burramente, escolhia suave, putz! Que mancada! Em seguida, como todo mundo já sabe, veio o alemão fraquinho da garrafa azul, com gostinho de uva, que abriu corajosamente caminho para outros vinhos e experiências mais interessantes. Descobri que não era que não gostasse de vinho, é que não gostava de vinho ruim! Bom, hoje nem preciso dizer, mas São Paulo é a melhor cidade para se beber e comer do mundo.
Não bebo tão intensamente assim, nem acho que uma pessoa precise de álcool para se divertir. Bebida, pelo menos para mim, é algo social, deve vir junto de algum motivo e sem prejudicar ninguém. Caso contrário, perde a graça. Não sabe brincar, não brinca!
Mas vamos lá, em um balcão de bar, qual é a graça em pedir coca-light? O balcão te convida a interagir, tem um “quê” de ritual, é um lugar para os iniciados. Não tem a formalidade das mesas, não é para namorar, não é para segredos. O balcão é para amigos.
Aqui encontrei meu chopp! Adoro cava, o espumante espanhol. Também há a possibilidade de pedir uma copa de vino. Pronto! Resolvi meu problema dos balcões de bar e finalmente desfrutei essa delícia que é beliscar descompromissadamente em pé ou nos bancos altos de apoio.
Ainda amo os jantares românticos e formais, mas mantenho minha fisolofia que um prazer não precisa eliminar o outro. Por exemplo, há um restaurante e bar que adoro, o “Finos & Finas”. Apesar do nome meio brega, tem uma cozinha excelente e criativa! Para um jantar mais elaborado, nada como o atendimento da super simpática Marta. Ela te indica os vinhos corretos, te explica os pratos com boa vontade, uma gracinha! Mas houve o dia em que chegamos sem reserva com um amigo americano, já meio tarde, e não havia mais mesas. A cozinha estava praticamente fechada. O Luis (não o meu marido), gente boa como qualquer barman, disse meio sem graça, se vocês quiserem, podem ficar pelo balcão que tento pedir na cozinha algo mais simples. Se alguma coisa aprendi na noite é saber em quem se deve confiar. Na mesma hora, Luiz (esse meu marido), eu e nosso amigo, concordamos quase que em coro: fechado! O que você disser a gente topa! Putz! A gente se deu muito bem! Além das dicas do barman serem de primeira, acabamos batendo o maior papo e provando todo tipo de vinho, por nossa conta ou por conta da casa!
Outro balcão que adoro é do “El Barril”, tem dois da mesma rede perto de casa. Esse não é tão barato e é frequentado por uma clientela mais, digamos, adulta. Oferece frutos do mar fabulosos! Nada melhor que as dicas do Benjamin, outro barman-gente-boa, do que está mais fresquinho. A cava está sempre geladinha e, apesar de não gostar, o chopp, que aqui se pede caña, é lindo e bem tirado.
Tem o “Aranzabal”, um estilo mais jovem e despojado, mas onde se come os melhores huevos rotos de Madri. O vinho é bem honesto também. Nesse não dá para conversar muito com o barman, porque vive lotado e o coitado mal respira! Mas o bar é bom!
Não posso deixar de contar do nosso pé-pra-fora mais frequentado, o “Panamá”. Esse é a extensão da nossa cozinha. Foi, inclusive, onde assinamos nosso contrato de aluguel desse apartamento. Ali, quando Luiz viaja e tenho preguiça de cozinhar, tomo uma copa de Rioja com umas almôndegas ou umas allitas de pollo super bem feitas. No balcão, claro, conversando com a dona do local.
A propósito, aqui não tem nenhum problema em haver uma mulher sozinha no balcão do bar. Também não tem limite máximo de idade, é a coisa mais normal do mundo encontrar mayores tomando sua caña ou sua copa de vino! Mas sabe de uma coisa, é raro ver bêbados pelas ruas. De modo geral, as pessoas sabem beber e não exageram.
Ainda não aprendi a jogar os guardanapos e outros lixinhos no chão, como os autênticos madrileños. Acho que sou a única pateta que procura ficar próxima às lixeirinhas, lugar mais limpo do recinto. Mas um dia chego lá…