Sempre escolho uma música para as cidades que gosto. Normalmente, ela começa a tocar na minha cabeça enquanto caminho pelas calçadas. Funciona como uma trilha sonora muito particular. É impossível passear por Salvador sem ouvir batuques africanos, assim como é impossível passear por Veneza sem ouvir violinos, reais ou imaginários.
Não precisa ser uma música da mesma cidade ou país. É até natural que muitas vezes coincida, mas não é uma regra.
Desde que mudei, procurava uma música para Madri e não encontrava. A minha lógica dizia que deveria ser algo flamenco, mas não encaixava. Quer dizer, encaixava com a cidade, mas não com meu estado de espírito nela. Tentei outros ritmos, jazz ficava papagaiado; blues, assim como flamenco, ficava meio triste; as clássicas me pareciam fora de contexto. Passados mais de sete meses, já havia desistido, a hora que viesse estaria bem.
Até que hoje, caminhando pela Universidade entre as árvores de outono, olhei para cima e reconheci o céu de Brasília! Não era igual, mas estava muito parecido. O céu de Brasília é lindo! É um azul mais claro e limpo, com partes meio avermelhadas ou alaranjadas. Não sei descrever bem, mas sempre sabia notar na TV que uma reportagem estava sendo realizada lá quando era feita ao ar livre. O céu entrega.
Hoje Madri do meu caminho estava assim, com o céu ligeiramente avermelhado no fim da tarde e com as árvores de folhas caindo amarelas. Daí foi até covardia! Só uma pessoa poderia resolver essa questão: Djavan. Olha que chic! Agora andarei pela Complutense com o Djavan cantando no meu ouvido!
…passa mais além do céu de Brasília, traço do arquiteto, gosto tanto dela assim, gosto de filha, música de preto, gosto tanto dela assim…mas é doce morrer neste mar de lembrar, e nunca esquecer, se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria, isto pra mim é viver.