Mesmo antes de mudar para cá, havia ouvido falar muitas vezes da depressão que pode causar o inverno. Não é que não acreditasse nisso, mas nunca acreditei que pudesse acontecer comigo. Nem é meu primeiro inverno fora do Brasil. Mas a verdade é que aconteceu e estou aprendendo a lidar com essa situação.
Felizmente, para mim não é tão grave, nada que precise medicação ou me derrube seriamente. Mas existe, está ocorrendo e não posso negar. Por sorte, pude perceber e entender rapidamente o que era. Com algumas pessoas isso pode ser mais sério e não é vergonha nenhuma, precisa ser tratado.
Não sou uma pessoa das mais simpáticas ou super comunicativas, essas características sempre foram do meu irmão e da minha mãe. Por outro lado, normalmente não sou mal humorada e sou bem animada. Há três coisas que tiram meu humor: fome, muito sono e fazer algo que não quero sem necessidade. Razoável! Agora descobri que também há um quarto motivo, o inverno.
Não é que me deixe aborrecida, mas me tira o ânimo de fazer as coisas. E não é necessariamente o frio, pois dentro de casa é aquecido e tenho roupas muito adequadas que me protegem na rua.
Notei que cada vez que tenho que sair é difícil, é um esforço que faço, a vontade é de me entocar em casa. Isso para mim é algo muito estranho, pois sou daquelas que quando você me pergunta “vamos a tal lugar?”, já estou pronta em pé na porta. Juro! Também estou com pouca vontade de sorrir e me irrito com mais facilidade. Não sei explicar bem, mas é como um tipo de tristeza que você não entende o motivo.
É diferente de tirar férias no inverno ou ir para uma estação de esquis, porque isso de alguma maneira te tira da rotina. É a rotina de inverno que me cansa. É acordar com o dia meio escuro, ter que pensar em cada peça de roupa, vestida em que ordem e qual casaco colocar, precisar checar o tempo antes de sair de casa, conviver com as mudanças bruscas de temperatura cada vez que entra e sai de algum recinto, me emplastar de hidratante, nunca esquecer o protetor labial, lembrar de ligar o humidificador, não poder abrir as janelas para o ar circular… O inverno não te sugere uma rotina, ele te impõe uma. E isso porque Madri, ou mal ou bem, não é radicalmente fria e costuma ser ensolarada. Imagino nas cidades cinzentas ou de muita neve, onde se você não tomar as providências adequadas, pode até morrer. Simples assim.
Acho que, em parte, o brasileiro é mais alegre por causa da luz e da temperatura do país. A gente não se dá conta porque está sempre ali, mas quando não está mais, faz falta.
Enfim, os motivos exatos não tenho certeza, mas tenho tentado reagir. Não porque tenha me atrapalhado tanto, mas porque gosto de ser feliz. O que tento fazer é, primeiro, com ou sem vontade, não recusar convites. Mesmo desanimada, eu saio, porque quando estou na rua melhoro sensivelmente e consigo me divertir.
A outra coisa é a alimentação. Seria ótimo se gostasse de pimenta, pois o chile, por exemplo, aumenta seu nível de endorfina e melhora o humor. Infelizmente, não gosto, então estou experimentando outros ingredientes. O gengibre, o alecrim e a noz-moscada me ajudam e a vitamina C também. O raio do chocolate é bárbaro, mas deixa a pele um lixo, além de engordar. O vinho é um bom aliado, mas a não ser que seja um jantar especial, não mais que uma ou duas taças ou o efeito é contrário.
Muito bem, uma produçãozinha pessoal ajuda, vai. E, por que não? “Al mal tiempo, buena cara”. Afinal, as outras pessoas também estão passando pelo inverno e ninguém merece ficar olhando meu rosto desanimado, certo?
Aos poucos, encontro minha própria fórmula de expulsar a uruca, ainda que me interesse bastante a experiência alheia nesse sentido. Todos os anos o inverno chegará e talvez um dia nem ache ruim. Quem sabe, ainda espere por ele.