Com a cabeça e a casa viradas pelo avesso, um dia antes da mudança achei que ia surtar! Para complicar um pouco mais, ainda foi o dia de apresentar meu trabalho na pós-graduação, o que em outras palavras é o mesmo que me apresentar. Mais uma vez tendo que provar quem sou e esperar a aceitação, quando na verdade estava com vontade de mandar tudo às favas. Mais uma vez tendo que me reinventar e me reconstruir. Enfim, sobrevivi.
Em casa, Luiz me puxou para conversar e finalmente consegui desabafar um pouco e ver as coisas com mais clareza. Acho que meus problemas são reais, mas estavam mal dimensionados, precisei da ajuda dele para colocá-los no seu devido tamanho antes de começar a resolvê-los. Além do mais, é sempre muito bom saber que tenho um super parceiro ao meu lado.
No dia seguinte, tudo começou a mudar. Literalmente.
Contratamos uma empresa de mudanças que chegou pontual às 8:30 da matina. Eles sempre entram como furacões e encaixotam sua vida em minutos. Estou acostumada, isso não me incomoda, já sei tudo que preciso preparar com antecedência para me facilitar depois na arrumação. Aqui, normalmente são imigrantes que fazem o serviço, polacos, romenos, equatorianos… Um deles tinha cara de mafioso russo, dava medo, mas os outros todos eram simpáticos. O polaco estava doido para conversar sobre o Brasil, havia visto um programa na TV e tinha muita curiosidade sobre a cachaça. Aliás, horas mais tarde, quando a mudança terminou, demos a ele uma garrafa que foi retribuída com um sorriso nos indicando que valeu muito mais que a gorjeta. A propósito, gorjeta aqui chama propina.
Dessa vez, nossa mudança não foi tirada pela janela. Os móveis foram pelas escadas e as caixas pelos mínimos elevadores, ridiculamente pequenos. Mas o pior, ou melhor, é que eles fazem tudo rápido e sem reclamar, também estão acostumados.
Deixamos nossa cama de casal no apartamento antigo, era uma cama americana muito grande para os padrões europeus e aproveitamos a mudança como pretexto para comprar uma nova.
Com esse povo todo em casa, Luiz recebeu uma ligação com ótimas notícias do seu trabalho. A empresa onde trabalha foi comprada há alguns meses atrás e essa é sempre uma situação preocupante, pois a gente se sente meio vulnerável. Dessa vez, tanto ele quanto eu, tivemos a intuição que ele deveria ficar e ver o que aconteceria. Nesse dia da mudança ele soube que não só teria emprego, como estará responsável por outras regiões. Ele merece, trabalha para burro e é super competente. Claro que isso deu uma tremenda levantada no astral e ajudou a entrar com o pé direito na nova fase.
Aqui, as empresas de mudança reservam na prefeitura as vagas na frente do prédio para poderem realizar seu trabalho. Acontece que tem sempre um engraçadinho que resolve se fazer de desentendido e estacionar assim mesmo. Na outra mudança aconteceu isso e nessa não foi diferente. De manhã cedo, no primeiro apartamento, não houve nenhum problema, mas no meio do dia, trazendo os móveis para cá, algum esperto tirou a faixa de proteção das vagas e estavam todas ocupadas. Perdeu-se quase duas horas para chamar a polícia, rebocar os carros e estacionar o caminhão para começar a descarregar.
Nesse período, ligamos para meu irmão para desejar feliz aniversário. Dia 06 de abril, exatamente o dia em que chegamos na Espanha há um ano atrás. Mudamos no mesmíssimo dia.
Por volta de 19:00 horas, estávamos no nosso novo lar… com 98 caixas de papelão e outra vez sem cama! Voltamos ao antigo apartamento para buscar o Jack e, logo na entrada, ao ver tudo vazio, senti que não era mais minha casa. Mesmo tendo sido feliz ali, não mantenho nenhum laço às coisas, era só um lugar por um ano. Que venham os próximos e que sejam felizes!
Aqui, nosso felino gordo ficou perdidinho da Silva! Mudanças são difíceis para os animais. Mas como também temos prática nesse assunto, arrumamos rapidamente seus objetos de conforto e, aos poucos, ele foi cheirando tudo e se pondo mais à vontade. Ele gostou. No dia seguinte já passeava curioso pela casa.
Mudamos estratégicamente um pouco antes da semana santa. Tive uma semana inteirinha de feriado da faculdade e, consequentemente, mais tempo para arrumar a casa. Consegui arrumar quase tudo. Durante o dia abria e arrumava as caixas e, à noite, Luiz levava aquele monte de lixo e papelão para baixo.
Improvisei uma cama de casal no chão, usando os dois colchões do sofá cama de hóspedes. Ficou super aconchegante, com jeito japonês, o que acabou confirmando como seria nossa futura cama.
Adorei o apartamento novo! É um duplex pequeno, mas muito charmoso e com muita luz. Sol em casa aqui é um luxo que eu e Jack estamos desfrutando com muito prazer. No andar de baixo ficam a sala, a cozinha, o quarto de hóspedes/escritório e um banheiro. No andar de cima, um mezanino, fica nosso quarto com outro banheiro. Tem uma varandinha onde já coloquei umas plantas, mas preciso arrumar melhor. As coisas do atelier ficaram bem apertadas embaixo da escada e talvez tenha que usar a mesa de jantar para trabalhar, nem tudo é perfeito, mas também não dá para reclamar.
O chato é que a Internet está super improvisada, além de termos ficado sem ela alguns dias. E eu, uma super viciada na rede, tenho que escrever e checar minhas mensagens toda torta em um laptop na sala, o que ainda é melhor que buscar um lugar público. Os serviços aqui são uma bela bosta, tudo demora.
Foi uma semana trabalhosa, entretanto tranquila. Arrumar a casa me ajuda a organizar as idéias. Acho que sou mesmo pião de obra, viu?