Pelo título da crônica, acho que dá para perceber a irritação que isso me provoca!
Parece que foi ontem, mas já faz um ano que estamos aqui e isso quer dizer que é hora de renovar meu NIE, a carteira de identidade espanhola. Funciona da seguinte maneira, a primeira permissão de residência é válida por um ano, a segunda por mais dois anos, a terceira por mais dois anos também e, completando esses cinco anos, você já pode ter a carteira definitiva. Quer dizer, pelo menos em teoria, porque sempre descobrimos alguma novidade no caminho, mas em princípio é assim. Em cada uma dessas etapas, você passa por todo um processo super burocrático para ter seu visto de residência novamente aprovado e renovar seu NIE.
Passamos por um processo similar duas vezes nos EUA e agora estamos na segunda vez aqui na Espanha. Isso quer dizer que, em um prazo de dois anos, tive que provar que eu sou eu mesma quatro vezes! Pois que desculpem meu francês, mas é foda! E nessas horas só mesmo um bom palavrão para desabafar.
E como nada chega sozinho, veio junto com nossa próxima mudança de casa e com o início da pós-graduação em arte contemporânea. Muito bem, com a mudança, por mais que esteja acostumada e tenha atalhos muito convenientes, a verdade é que sempre me tira um pouco o chão e me força a uma certa reconstrução. O curso, além de estar me consumindo tempo e esforço, tem me feito questionar todos os dias se sou mesmo uma artista, se estou no caminho certo. Tudo isso aliado à troca de “identidade” e a necessidade de me provar o tempo todo é um prato cheio para loucura!
Não enlouqueci ainda, ou pelo menos não totalmente, mas ando com os nervos a flor da pele. E já caí umas duas vezes no choro por pura exaustão, nem consigo me lembrar exatamente o motivo. Daqueles choros que é por nada e por tudo ao mesmo tempo. Mas a verdade é que achei bom, porque a calma e a segurança que tenho levado os problemas ultimamente não é normal, mais parecia calmaria antes da tempestade. Melhor que saia em pequenos desabafos antes que pule no pescoço de alguém!
Por outro lado, também há algumas possibilidades positivas. Nessa minha primeira permissão de residência, não podia trabalhar no país, meu visto era atrelado totalmente ao do Luiz. Nos EUA era a mesma coisa, até pior porque não havia a chance de mudar essa situação. Aparentemente, porque certeza já não tenho de nada, essa nova permissão de residência para os próximos dois anos me dará o direito a trabalhar. E isso faz toda diferença do mundo. É uma linhazinha escrita no meu NIE permitindo uma atividade remunerada, nem sei se terei emprego, mas isso ajudaria muito a me sentir uma cidadã e não um apêndice.
Enfim, dias melhores virão! Não estou pessimista, só cansada mesmo. De qualquer forma, pelo menos chegou a primavera e já vejo os brotinhos verdes nas árvores que ainda parecem meio mortas. Pensando melhor, agora parecem meio vivas, e isso também faz muita diferença.