Hoje é 18 de março de 2006, e fazemos aniversário de doze anos de casados. E sim, claro que tem festinha! Sempre comemoramos essa data, mas nos dois últimos anos foi meio complicado. Em um deles estávamos de mudança para Atlanta, dentro do avião acima do oceano, e no outro, em países diferentes, providenciando a mudança seguinte aqui para Madri.
Acredido que as pessoas devam se casar pelos motivos certos. Nós casamos porque eu ia trocar de carro. Juro! Muito simples, juntei dinheiro para vender meu carro e comprar um melhor. Daí, sabia que Luiz também tinha uma reserva, mas nenhum plano para ela. Pensei, quer saber, por que ao invés de comprar outro carro, não juntamos esse dinheiro e compramos um apartamento pequeno para a gente? Luiz adorou a idéia e passamos a buscar imóveis.
A verdade é que, mesmo juntando nossas economias, só dava para comprar uma kitinete porcaria, que atualmente se chama de maneira mais elegante: studio. Chegamos a conclusão que não nos adaptaríamos a nada tão pequeno e Luiz me perguntou se achava que meus pais poderiam nos ajudar. E eu, você acha que meu pai, conservador, iria ajudar a comprar um apartamento para a gente morar junto? Se ainda fosse para casar… E ele, muito prático, então por que a gente não casa?
… e assim, já se vão doze anos! Posso contar essa história agora, pois o tempo nos deu credibilidade e tornou tudo muito divertido. Mas, honestamente, nunca fui capaz de entender quem pediu a mão de quem em casamento.
O fato é que, desde muito cedo em nosso namoro, tínhamos essa sensação que ficaríamos juntos. Não era uma coisa conversada em palavras, era simplesmente uma consequência natural. Assim que, quando decidimos casar, achamos que era só ir até um cartório e formalizar.
Foi a vez da minha mãe saltar dois metros de altura: como assim casar no cartório? E a festa?
Sou a única filha mulher, tenho apenas um irmão mais novo. Casar sem uma comemoração era para eles a morte lenta e dolorosa, mas não entendia isso naquele momento.
Lembro quando o Luiz perguntou a minha mãe por que ela não usava o dinheiro da festa para colocar armários no apartamento novo. E ela respondeu: você acha que vou colocar o dinheiro da MINHA festa em armários? Ele veio me contar rindo, sua mãe disse que a festa é dela, eu é que não falo mais nada!
Bom, para apaziguar os ânimos, topamos fazer uma festinha íntima, só para a família, chamando a juíza para nos casar na casa dos pais do Luiz, em Teresópolis. Muito bem, quando se começou a fazer as contas de quem era “só a família”, chegaram a um número próximo aos cinqüenta. Minha mãe achou que era um número meio grande para fazer em Teresópolis e pensou em alugar um local. E aí, já que iria alugar um local, quem aluga para cinqüenta, aluga para cem…
Foi quando comecei a entender e perceber a agonia que era para meus pais, principalmente para minha mãe, o fato de nós não ligarmos para uma festa de casamento. Então, nesse momento, perguntei a ela se era tão importante assim que a gente fizesse uma festa maior. E ela me respondeu que sim. Daí eu disse que tudo bem, só tinha um problema, nessa época eu morava na ponte aérea, trabalhando em São Paulo e voltando para o Rio nos fins de semana. Não tinha a menor condição de organizar ou me preocupar com uma festa de casamento. Prometi a ela que eu e Luiz apareceríamos no dia, mas que ela precisaria decidir e contratar tudo! Pois acho que era exatamente o que ela queria ouvir.
No fim das contas, foram convidadas trezentas pessoas. Nos informaram que era normal uma falta de aproximadamente 20% dos convidados, o que não aconteceu. Foram a festa trezentos e trinta convidados, ou seja, não só não faltaram os 20%, como vieram 10% a mais!
Mas quer saber de uma coisa? A-do-rei! Se não tivesse feito a festa, não teria me arrependido, pois não conheceria a delícia que foi. A verdade é que se tornou um dos dias mais felizes da minha vida e essa memória me emociona até hoje. Aprendi a importância dos rituais de passagem e como uma felicidade se potencializa quando dividida com pessoas queridas.
A partir daí, sempre que possível, comemoramos o dia com uma festa.
Esse ano, por não gostar do número 12, resolvi contratacar a urucubaca com muita energia e pensamento positivo. O tema da festa é branco, inspirado no Ano Novo. Serviremos bebidas brancas, com destaque para a Cava, espumante espanhol. A maior parte das comidinhas incluem a cor branca e um toque afrodisíaco. O legal é que dessa vez Luiz me ajudou a fazer a comida da festa, o que acabou dando mais significado ainda.
E assim celebramos doze anos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. O futuro, quem pode saber? Sei do que passou e já foi com dinheiro e sem dinheiro, com emprego e sem emprego, com casa e sem casa, sabe-se lá em que país, com amigos reais e virtuais, com um felino a tiracolo, discutindo nos caminhos, mas sempre chegando juntos aos lugares. Em todos esses dias, felizes ou não, dividimos a mesma cama. E o frio ou o calor da noite se encarregou em colocar a vida sob a real perspectiva e os problemas do seu devido tamanho.
Não tenho paciência para ver novelas e reclamo dos previsíveis filmes americanos, mas a verdade é que gosto de seus finais piegas e onde tudo dá certo. Gosto das novelas que terminam mostrando um casamento que será feliz para sempre, e ainda me arrepio no fácil final clássico de filme americano, quando o mocinho estende a mão e convida a protagonista para dançar. E que assim seja!
The end.