113 – Picnic no Retiro

No sábado, dois dias depois da mudança, ainda tínhamos algumas coisas pessoais no antigo apartamento para buscar. Para fazer tudo em uma única viagem, pedimos ajuda de um casal de amigos que mora perto e estamos sempre juntos.  

Como já havia conseguido arrumar a cozinha, fizemos a inauguração extra-oficial com eles, abrindo uma garrafa de cava para comemorar. Claro, no meio de um monte de caixas de papelão! 

Eles sugeriram que, no dia seguinte, domingão, a gente fizesse um picnic no parque do Retiro. Adorei, queria fazer isso antes, só estava esperando o tempo melhorar. E o tempo colaborou.  

O bom de morar em um país estrangeiro é que a gente tem coragem de fazer algumas coisas que morreria de vergonha no nosso próprio país. Uma boa “farofa”, por exemplo. Se bem que, cá entre nós, foi uma farofa razoavelmente chic. Bem, quer dizer, meio chic, porque começou por chegarmos ao parque com um carrinho de feira para levar as coisas. Idéia do meu prático e desencanado marido. Imagina se a gente toparia pagar o mico de chegar no Brasil para um picnic, trazendo a comida e a bebida em um carrinho de feira? Nunca!  

Escolhemos ficar perto do laguinho, segundo minha amiga, para termos uma vista do “mar”. Ela levou uma toalha enorme e umas cangas, onde nos sentamos e colocamos toda a comida. Sabe que ficou bonito? Levei vinho branco, mas por precaução coloquei em uma garrafa térmica para disfarçar. Depois de burra velha fico me preocupando com essas besteiras! 

O dia estava simplesmente maravilhoso e agradável! Fazia muito tempo que não relaxava tanto e tenho certeza que foi o sentimento geral. Adorei ver as árvores verdes novamente e ouvir os tambores no ar. Sentia saudade desse som tribal. 

Um pouco depois que estávamos lá, chegou um outro casal de amigos dos nossos amigos. E, logo em seguida, esses amigos dos amigos chamaram outro casal. No fim da história, estávamos em quatro casais largados na grama curtindo a primavera. 

Muito bem, os dois últimos casais acabaram trazendo mais vinho, apesar da gente não ter certeza se era permitido álcool ou garrafas no parque. Em volta da gente foram se juntando outros grupos, alguns só para tomar sol, outros bebendo alguma coisa, jogando malabares, jogando capoeira, brincando com o cachorro ou simplesmente morgando na grama. 

Um dos amigos viu um grupo de policiais chegando e, na dúvida, achou que era melhor escondermos as garrafas. Não deu outra, os policiais foram direto no grupo da frente porque tinham garrafas de cerveja. Foram educados com eles, mas pediram documentação e tudo. Era um grupo de brasileiros, vimos seus passaportes verdes.

Tiveram que se desfazer da cerveja e das garrafas e ficou um clima um pouco tenso, mas não deu maiores problemas. 

Daí ficamos nós, oito adultos caretas que não tinham feito absolutamente nada demais, tentando se comportar naturalmente para os policiais não virem checar nossa farofa. Para ser sincera, não fiquei preocupada, até achei meio divertido. A verdade é que havia três advogados entre nossos amigos com a consciência pesada porque podiam estar cometendo algo fora da lei. No fim das contas, os policiais nem nos deram bola. Claro, todo mundo com a maior cara de CDF, imagina!  

Quando os policiais se foram, nos vangloriamos da nossa façanha meio ilegal. E como marginais perigosíssimos que somos, recolhemos todo lixo antes de ir embora, deixando o lugar impecável.

Repetiremos com certeza, dessa vez com o vinho em garrafas térmicas! Mas definitivamente, sem esquecer o carrinho de feira e quem sabe até leve meu tambor. 

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